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Evolução urbana




A evolução urbana de Santos
1502 - Evolução pré-urbana
Os métodos ubanísticos a partir da povoação
Após o descobrimento da América e a assinatura do Tratado de Tordesilhas entre Espanha e Portugal, era intenção do governo português explorar o território brasileiro através da criação de feitorias e a cobrança de impostos sobre a extração de recursos naturais e a produção de açúcar. Ao contrário do português, o Reino Espanhol tinha na América uma extensão de seu próprio território, fundando cidades planejadas, escolas, hospitais, universidades e criando uma tradicional presença do Estado. As primeiras ocupações do território brasileiro pelos portugueses eram apenas uma consequência de suas atividades exploradoras. Explica-se assim o fato do povoado de Santos ter se iniciado a partir de uma ocupação informal do território, sem nenhum planejamento, com ruas sendo abertas sobre antigas trilhas indígenas que acompanhavam a geografia do território, fato que pode ser observado no traçado irregular de algumas ruas do Centro Histórico de Santos. A Rua XV de Novembro, por exemplo, sofreu um desvio devido à existência de uma área de mangue ao longo da Rua do Comércio. Somente a partir do século XIX é que se fariam correções e se aplicaria a conceituação romana de urbanismo, o "plano xadrez": os grandes largos em frente aos edifícios principais, as fontes monumentalizadas e as ruas perpendiculares, criando normas rígidas de circulação, vida e convivência.

As primeiras ocupações de terras
Nos primeiros tempos da colonização, a partir da distribuição das sesmarias, a região do Enguaguaçu é ocupada: José Adorno instala seu engenho próximo ao Morro de São Bento, no Valongo; Pascoal Fernandes e Domingos Pires se unem na construção de uma casa e na plantação de cana para alimentar o engenho e cultivam as terras entre o Estuário e a encosta do Monte Serrat, do Corpo de Bombeiros até onde está a Cadeia Velha; Luiz de Góes se estabelece no Centro, próximo ao Outeiro de Santa Catarina; Mestre Bartolomeu Gonçalves se estabelece no atual Morro de São Bento; e finalmente, Brás Cubas fica com o Monte Serrat. Outras áreas são ocupadas nos arredores, mas é no Enguaguaçu que começa a se formar uma povoação, em torno do cultivo da cana e sua industrialização, com a instalação de uma oficina de ferreiro, das primeiras tulhas, dos primeiros ranchos de colonos e monjolos, de mais dois engenhos e das primeiras capelas. O porto é transferido de sua localização na Ponta da Praia para o Lagamar do Enguaguaçu em 1540, consolidando de vez as raízes do novo povoado, com a construção das primeiras pontes de atracação e trapiches. Nesse mesmo ano é construída a Igreja de Santa Catarina e em 1543 é fundado o hospital.

A vida da Vila no século XVI
Em 1546 o povoado recebe o foro de Vila, quando então possuía cerca de 350 habitantes. A nova Vila cria a Casa do Conselho, cuja primeira sede ficava no local da Alfândega atual e, em 1550, a Alfândega é instalada. Em 1560 é construído o Forte junto ao ribeirão do Itororó. A Vila ganha um pelourinho e o desenvolvimento econômico atrai novos moradores e novas casas são construídas ao longo das ruas. Cruzes e sinais demarcavam as propriedades e ainda hoje existe, no Centro, uma preciosa relíquia desses tempos pioneiros: uma cruz de granito, atualmente no pátio do Convento do Carmo, que demarcava o início da antiga Rua da Cruz.

A Casa do Trem Bélico, que guardava munições para as fortalezas da região e a
Igreja de Santa Catarina, que foi a primeira Matriz da nova Vila (tela de Calixto).
Mudanças na economia modificam a Vila
Com a produção do açúcar em grande escala no Nordeste, a Vila entra numa fase de marasmo, interrompida apenas com a fundação e início do desenvolvimento da Vila de São Paulo de Piratininga, a partir de 1554, quando o porto de Santos torna-se elo vital para o planalto. A partir de 1570, novas casas comerciais se estabelecem na região do atual bairro do Valongo e fazem daquela área a mais movimentada da Vila e do porto, atraindo para lá o fundeadouro comum e a Alfândega, que passa a funcionar em um casarão levantado na praia, em frente ao Beco da Alfândega Velha (depois Travessa da Banca do Peixe, Rua 11 de Junho, atual Riachuelo). Para a ligação do antigo núcleo, próximo ao Outeiro de Santa Catarina, com a nova área no Valongo é criado um caminho, a Rua Direita, que viria a ser no futuro a principal rua da cidade (Rua XV de Novembro).

A Igreja Matriz, cujo largo à frente daria lugar à Praça da República. No alto à direita o Outeiro e Igreja de Santa Catarina. À esquerda, o Colégio dos Jesuítas,
em prédio que já fora Casa do Conselho. Esse prédio, chamado "Palacete"
viria a abrigar a Alfândega (na parte da igreja), o Hospital Militar (parte leste)
e o Palácio (restante do prédio), que abrigava autoridades em visita à Vila - ali
se alojaram D. Pedro I e sua comitiva em 1822. (tela de Benedicto Calixto)
 
1600 - A vila caminha para o norte
O surgimento da Rua Principal
Em 1580 Santos possuía basicamente dois núcleos urbanos, ligados por uma via denominada Rua Direita. De um lado, a área do Valongo, com hospedarias e casas comerciais, e de outro lado, a área principal, junto ao Outeiro de Santa Catarina, com os Quartéis e a Casa do Conselho. Em 1585 a Casa do Conselho é transferida para novo local e o antigo prédio é doado aos jesuítas, que nele constróem o Convento, a Igreja e o Colégio.

1600 - Aspectos gerais da Vila
No final do século XVI, a Vila possuía uma população fixa aproximada de 600 pessoas e 100 casas regulares, fora as cabanas de mestiços e indígenas. A maioria da população era mestiça, os comerciantes eram em número regular e suas casas ocupavam as áreas ao longo do porto, mais para o lado do Ribeirão de São Jerônimo, por onde chegavam as canoas de mercadores do planalto. Para dificultar ataques e invasões, a Vila era cercada por muros a leste e ao oeste, ao sul pela barreira representada pelo Monte Serrat e ao norte pelo Forte da Vila e as águas do Lagamar de Enguaguaçu.

A Rua Direita é ocupada
Em 1642 é construído o Mosteiro de São Francisco (depois Santo Antonio), no Valongo e em 1650 é fundado o Mosteiro de São Bento. Em meados do século a Vila entra em profunda crise econômica, agravada pela transferência da Capital da Capitania para São Paulo e pela evasão de moradores que partem nas bandeiras em busca de fortuna. Daí até o final do século XVII e início do século XVIII, apenas algumas igrejas aparecem no cenário urbano: a Igreja de Santo Antonio, junto ao Mosteiro no Valongo (1691), a Igreja Matriz (1746) e a Igreja do Carmo (cerca de 1760). Nesse período, a Vila cresce mais para os lados do Valongo, que concentra as zonas comercial e residencial mais abastada e as melhores hospedarias. A Rua Direita se fixa como eixo principal da Vila e ao longo dela são construídas inúmeras casas e sobrados para moradia.
Acima e abaixo, a Rua Direita em dois ângulos . Acima, o pelourinho, a Igreja
do Carmo e o Arsenal da Marinha à direita. Abaixo, a nova Casa de Câmara
e Cadeia, ocupando espaço da atual Praça da República (telas de B. Calixto).
1765 - A vila caminha para o oeste
Santos, aspectos urbanos, 1765
Em 1765, Santos possuía uma população fixa de 2.081 habitantes e uma dezena de ruas e praças, sendo que algumas delas já tinham outros nomes. Eram elas: Rua Direita (dos Quatro Cantos à Ponte do Carmo), Rua de São Francisco (da ponte aos Quatro Cantos), Beco da Alfândega Velha, Rua da Misericórdia, Rua da Praia, Travessa da Banca do Peixe (da Rua Direita ao Porto, junto a Alfândega velha), Beco de Maria Francisca (da Rua Direita ao campo, oposta à Tr. da Banca do Peixe), Beco de Gonçalo Borges, Travessa do Parto (cortando a Rua Direita até o canto do Itororó), Rua Pequena (do Pelourinho até a Matriz e daí até o Outeiro), Rua do Hospital (do antigo hospital até o fim dos Quartéis), Rua do Cortume (do caminho para a Fonte de São Jerônimo até o Valongo), Travessa do Carmo (atrás do Carmo) e
Rua do Valongo (da Rua do Cortume ao Estuário). Havia nomes para outros locais na área urbana, mas estes eram os principais. Cortando a vila havia quatro cursos d'água que nasciam nas encostas dos morros, atravessavam a área rural e desaguavam no porto. Esses "ribeiros", cujas fontes forneciam água para a Vila, não impediam o seu crescimento e a sequência das ruas.
1- Igreja de S. Catarina
2- Casa do Trem Bélico
3- Quartéis
4- Matriz
5- Colégio dos Jesuítas
6- Forte da Vila
7- Câmara e Cadeia
8- Pelourinho
9- Arsenal da Marinha
10- Igreja e Convento do Carmo
11- Alfândega velha
12- Igreja da Misericórdia
13- Alfândega nova
14- Quatro Cantos
15- Igreja da Graça
16- Convento de S. Francisco
17- Mosteiro de São Bento
18- Igreja de S. Jerônimo
19- Fonte do Itororó
20- Fonte das Duas Pedras
Como se pode observar no mapa da Vila em 1765, há um desvio no eixo formado pela Rua Direita e Rua São Francisco; isto se deve à existência, na época em que o caminho foi aberto, de uma área de mangue ao longo da Rua São Francisco (atual Rua do Comércio). Esse desvio criou um local que ficou conhecido como os Quatro Cantos (14 no mapa), local onde a rua Direita era cortada pela Travessa da Alfândega e Beco do Inferno (atual Frei Gaspar). Dos Quatro Cantos em diante, o eixo tomava o nome de Rua São Francisco - a primeira quadra logo receberia o nome de Rua Antonina (onde hoje está o calçadão da Rua XV). Os Quatro Cantos era um ponto de referência e talvez tenha se destacado apenas por ser o primeiro cruzamento envolvendo quatro ruas distintas.

Os ribeiros da vila
1- Ribeirão de São Bento: nascia no Morro de São Bento, atrás do antigo Mosteiro de São Bento, atual Museu de Arte Sacra de Santos. Seguia junto ao morro, passando e seguindo paralelamente à Rua dos Cortumes (atual Rua São Bento), indo em frente e desaguando no estuário, defronte ao Convento do Valongo.
2 - Ribeirão de São Jerônimo: nascia no Monte Serrat, próximo à Igreja de São Francisco de Paula (atrás da saída do túnel). Atravessava a planície, cruzava a Rua São Francisco, desaguando em área de mangue próxima aos "Quatro Cantos", na Rua Direita.
3 - Ribeirão do Itororó: nascia no Monte Serrat e seu traçado seguia por onde hoje estão as Ruas Itororó e Augusto Severo, desaguando no estuário, nas proximidades do Convento do Carmo.
4- Ribeirão dos Soldados: também nascia no Monte Serrat, seguia mais ou menos a linha da atual Av. Senador Feijó, no Centro, e desaguava no Estuário, ao lado do antigo Forte da Vila.

Os Quatro Cantos, confluência da Rua Direita (XVde Novembro), com a Rua da Alfândega e Beco do Inferno (Rua Frei Gaspar) e com Rua Antonina (boulevard
da XV). A casa da esquerda é de Frei Gaspar da Madre de Deus. (tela de Calixto)
Santos na época da Independência
De 1765 em diante a população de Santos aumenta, mas dentro de praticamente o mesmo espaço, sem expansão para as laterais. Houve mudanças em prédios públicos, como a Alfândega, os largos foram definidos e algumas ruas mudaram de nome. O mapa urbano avançou um pouco em direção aos morros, ganhando mais uma faixa de quadras e ruas, dentro do plano xadrez.
Em 1814, o segundo censo da Vila indicava uma população de 5.128 habitantes, incluindo os arredores: cerca de 20 ruas e praças localizadas no Embaré, Outeirinhos, Praia de Santo Amaro, Praia de Pernambuco, Praia do Góes e Praia da Bertioga. Nesse ano, Santos contava com 1 tabelião, 77 negociantes, 5 ourives, 9 ferreiros, 17 carpinteiros, 2 marceneiros, 4 calafates, 3 pintores, 1 tanoeiro, 10 alfaiates, 2 barbeiros, 24 sapateiros, 6 botequineiros, 2 músicos, 1 boticário e 2 médicos.
Em 1822, novo censo acusou uma população de 4.781 habitantes. Nessa época, a Vila era formada pelas seguintes vias principais: Rua dos Quartéis, Rua Josephina, Rua Santa Catarina, Rua Setentrional, Rua Meridional, Rua Direita, Travessa do Parto, Travessa da Banca do Peixe, Beco do Inferno, Rua Antonina, Travessa da Alfândega, Rua da Praia, Rua da Graça, Rua de Santo Antonio, Rua do Valongo, Rua de São Bento, Travessa do Carmo, Rua e Largo da Misericórdia, Largo do Carmo, Rua do Sal, Largo do Rosário, Rua do Rosário, Rua do Campo, Rua Vermelha e Rua do Itororó.
1- Igreja de S. Catarina
2- Casa do Trem Bélico
3- Quartéis
4- Matriz
5- Hospital Militar/Santa Casa
6- Palácio dos Governadores
7- Alfândega
8- Forte da Vila
9 - Pelourinho
10- Arsenal da Marinha
11- Ig. e Convento do Carmo
12- Igreja da Misericórdia
13- Igreja do Rosário
14- Casa da Câmara e Cadeia
15- Igreja do Carvalho (Capela
de Jesus, Maria e José)
16- Igreja da Graça
17- Convento de S. Francisco
18- Mosteiro de São Bento
19- Igreja de S. Jerônimo
20- Fonte do Itororó
21- Fonte das Duas Pedras
Observando os aspectos da Vila em 1822, podemos notar que ela continua com o mesmo traçado, porém com alguns acréscimos, como o Largo do Rosário, que por ser início do Caminho do Mar rumo a São Paulo, tornou-se a principal entrada da cidade. Também ensaiva seu início a Rua Nova (depois Áurea, atual General Câmara), paralela à via principal, com o estabelecimento das primeiras moradias.
Continuavam os largos em frente às igrejas com a função de oferecer espaços públicos. O maior ficava ao lado da Igreja da Misericórdia, que deu origem à atual Praça Mauá. Outro grande espaço público era o Largo da Matriz, que ocupava a atual área da Praça da República. A Igreja do Rosário, cuja construção se iniciara em 1765, possuía o Pátio do Rosário, o espaço que mais sofreu transformações no centro da cidade, até a formação da atual Praça Rui Barbosa.

Santos em 1822, na concepção de Calixto, onde se vê a área do Valongo e a foz do São Bento, com o Convento de S.Francisco à direita e a Capela de Jesus, Maria
e José à esquerda (este painel pode ser admirado no prédio da Bolsa de Café).
 
1839 - A vila agora é cidade de Santos
A Vila cresce sem progresso
Em 1827 a região de Cubatão é aterrada e Santos ganha ligação para São Paulo por estrada de rodagem. No ano seguinte, um novo censo indica o número de habitantes: 5.142 pessoas.
Em 1839 a Vila de Santos é elevada à categoria de cidade sem ter nenhum novo prédio de vulto - apenas os primitivos edifícios, baixos, abafados e escuros, muitos em péssimo estado de conservação. O calçamento se resumia em simples empedramento de algumas vias e travessas centrais, sujeitas a inundações frequentes por falta de sarjetas e bueiros. Não havia água canalizada ou esgoto e os ribeirões atravessavam a Vila a descoberto servindo de lixeira para a população. Não existia a remoção de lixo - o destino de todos os resíduos da cidade eram os rios e as praias, que viviam cercadas por urubus.

Os grandes espaços públicos são uma característica até o início do século XX,
quando os largos viram praças ajardinadas. Acima, o Largo da Matriz visto do
prédio do antigo Colégio dos Jesuítas, por volta de 1875 (foto Setur)
A cidade ruma para o Paquetá
Até 1850 a cidade se desenvolve sensivelmente para o lado dos Quartéis. As edificações na praia estendem-se bem além da Rua da Palha (atual Constituição), em direção ao Paquetá, abrindo-se a Rua Nova, depois Áurea (General Câmara), e transpondo o Largo da Coroação, antigo Largo da Misericórdia (Praça Mauá).
Também a Rua das Flores (Amador Bueno), que sai do Largo de São Jerônimo fronteiro à Santa Casa, atinge o Largo chamado depois de Mauá e Largo José Bonifácio (Praça José Bonifácio) e já o transpõe em seu avanço rumo ao Paquetá. As ruas saídas da Praça da Matriz seguem em direção às fontes de Itororó e das Duas Pedras, onde a cidade acaba e começam os morros.
A parte mais rica da cidade ainda se concentra na região do Valongo, onde estão o maior movimento comercial da cidade e os melhores hotéis e armazéns, e onde residem as pessoas mais importantes de Santos. O único prédio expressivo afastado dessa área é a Câmara Municipal, cuja obra, iniciada em 1836 no antigo Campo da Chácara (Praça dos Andradas), finalizava-se em 1866.
Nessa época, o único melhoramento efetivo que a cidade teve foi a instalação de 60 lampiões a azeite e o início do serviço de água canalizada, que vinha do José Menino por encanamento instalado no novo Caminho da Barra (atual Conselheiro Nébias).

A Rua Direita, em fins do século XIX. A principal via da cidade começa a adquirir
um caráter comercial. À direita, a Associação Comercial em sua primeira sede.
A cidade desencrava dos morros
Com a Lei que proibe o sepultamento nas igrejas é criado o Cemitério do Paquetá, em 1851, o que acelera a penetração da Rua das Flores até aquele sítio, povoando-se rapidamente as zonas circunvizinhas. Ao mesmo tempo, cresce a importância do Caminho Novo da Barra, o que possibilita o desafogo da cidade, até então apertada entre a praia do porto e os morros, alguns deles já bastante habitados.
Em 1854 é feito novo censo que aponta uma população de 7.855 habitantes, um crescimento acentuado em relação ao censo anterior. O comércio portuário toma grande impulso e aumenta o movimento de navios no Porto do Bispo e na Praia do Consulado. Santos é porta de saída para os produtos das povoações vizinhas, com destaque para o açúcar dos engenhos da Ilha de Santo Amaro, e para as primeiras safras de café da Província.

Santos recebe melhorias
Em 1860 tem início as obras de construção da estrada de ferro da São Paulo Railway Co. que, para a construção da estação, compra dos padres o Convento e a Igreja de Santo Antonio. A cidade assiste, com indignação, a derrubada de toda a ala esquerda do Convento e uma representação ao Imperador consegue parar a demolição, obtendo ordem de preservação do restante do Convento e da Igreja. Em 1867 acontece a viagem inaugural da São Paulo Railway, grande fator de desenvolvimento, mas Santos ainda sofre com os péssimos serviços públicos e com a falta de saneamento e água, agravada pelo aumento populacional. Nessa época Santos ganha o primeiro dos dois edifícios neoclássicos do Valongo, considerado o mais alto de todo o país na época.
A partir de 1871 começa a ser implantado o novo serviço de água e a cidade ganha 4 novos chafarizes, que vem se somar aos seis já existentes. Também tem início o serviço de gás.
Em 1871 é feito novo censo na cidade, que forneceu o número total de habitantes: 10.120 pessoas, alojadas em 1.382 prédios e moradias, incluindo morros, travessas e praias. A população era formada por gente da cidade, 1.606 escravos negros, 2.731 originários de outras Províncias, principalmente Minas e Paraná, e 1.577 estrangeiros.

O Largo do Rosário por volta de 1875, era o ponto inicial das recém inauguradas linhas de bondes puxados por burros, serviço iniciado em 1872 (foto Setur).
 
1878 - Santos, a nova cidade do café
A riqueza e o desenvolvimento urbano
Tudo começou em 1854: o início do ciclo econômico do café provoca uma era de prosperidade e crescimento. Em 1867, a Estrada de Ferro se combina com o porto criando a logística ideal para o escoamento mais acelerado da produção da Província. A Província produz, o porto exporta e Santos torna-se um profissionalíssimo centro de corretagem do produto, gerando riqueza e acarretando o desenvolvimento urbano.

As mudanças no porto
Também o porto, servido por pontes e trapiches que ligavam a praia e as pontes aos navios, sofre as primeiras modificações. O aumento do comércio e da exportação do café provoca a necessidade de novos investimentos e assim, o trecho de mangue próximo a Igreja do Valongo é aterrado para a construção de edificações no Porto do Bispo. Da mesma forma, o grande movimento logo faz saturar o prédio onde funcionava a Alfândega, e em 1880 é inaugurado um novo prédio no Largo da Matriz, no local onde ficava o prédio do antigo Colégio dos Jesuítas, que chegou a abrigar, ao mesmo tempo, o Hospital Militar, a Alfândega e o Palácio dos Governadores.
1- Trem Bélico
2- Quartel
3- Fortaleza
4- Ponte da Alfândega
5- Alfândega
6- Igreja Matriz
7- ant. Casa do Conselho
8- Convento do Carmo
9- Arsenal da Marinha
10- Capela do Carvalho
11- Consulado Americano
12- Consulado Italiano
13- Consulado Belga
14- Consulado Inglês
15- Estação de Trem
16- Convento de S. Antonio
17- Igreja da Graça
18- Consulado Alemão
19- Theatro
20- Igreja do Rosário
21- Câmara e Cadeia Nova
22- Mosteiro de São Bento
23- Santa Casa
24- Consulado Português
25- Consulado Francês
26- Telégrapho Nacional
Santos torna-se cosmopolita
Nessa época, nos idos de 1870, podemos notar que Santos se tornou um centro cosmopolita pela presença dos consulados estrangeiros que se estabeleceram na cidade para dar suporte ao grande número de imigrantes em trânsito pela cidade, e para atender as tripulações dos navios de todas as bandeiras que atracavam no porto. Surge o Correios e Telégraphos, as praças começam a ser urbanizadas, como a Praça dos Andradas, e a Administração Municipal muda-se para os dois casarões do Largo Marquês de Monte Alegre, em 1895.

A ocupação dos morros
A partir do final do século XIX e início do século XX, a ocupação dos morros e da área insular do município se acentua principalmente com a chegada dos primeiros imigrantes. A maioria dos moradores dos morros é de portugueses, vindos principalmente da Ilha da Madeira, que encontraram na topografia irregular um ambiente muito parecido com o de sua ilha de origem. O primeiro morro a ser ocupado é o de São Bento, seguido do Morro da Nova Cintra, ocupado a partir da construção de um bonde funicular que ligava o bairro do Jabaquara ao topo do morro.

Vista da cidade no início do século XX. A região do Valongo começa
a ser ocupada por grandes armazéns e a população mais abastada
se muda para a Vila Nova e o Paquetá (col. M.Serrat).
A elite da cidade deixa o Valongo
Com o crescimento dos negócios, o comércio cafeeiro precisou de mais espaço. O transporte e estocagem das sacas de café fazem surgir inúmeras cocheiras e vastos armazéns, que passam a ocupar principalmente os antigos casarões do bairro do Valongo. A população que antes vivia nessa área da cidade muda-se para uma nova área, mais sofisticada: a Vila Nova. Para o Paquetá se mudam o Mercado Municipal e o Hospital da Beneficência Portuguesa. Além disso, a primeira linha regular de bonde em direção à Barra facilita a ocupação de áreas à beira-mar, onde os cidadãos mais abastados começam a manter suas chácaras e casas de verão.

A zona do Outeirinhos, entre Macuco e Vila Mathias, era um extenso brejo,
a exemplo de outras áreas da planície, A partir de 1907, a construção dos
canais de drenagem começa a mudar a paisagem, (Coleção João Gerodetti)
Aspectos urbanos - 1896
Em 1896 a cidade tinha cerca de 35.000 habitantes, contra os 20.000 de 1888, e mais de 3.000 prédios, contra os 2.000 do censo anterior. No entanto, não chegava a ocupar 1/4 da área que ocupa hoje. Havia resistência da população em abandonar a área central. Depois do surgimento do bairro da Vila Nova, apenas algumas poucas casas pontilhavam aqui e ali pela Rua Octaviana (atual Conselheiro Nébias), o Caminho Novo da Barra. Neste ano é aprovado um novo Código de Posturas, elaborado sob orientação do Dr. Brant de Carvalho, com a finalidade de regulamentar as construções da cidade e os hábitos de higiene da população, uma tentativa de minimizar o péssimo estado sanitário de Santos.
Esta planta, de 1896, é um projeto para a expansão da cidade, de autoria da Câmara Municipal. No detalhe se pode ver a rigidez do chamado "plano xadrez", muito usado em Portugal. Do projeto Saturnino considerou algumas das vias propostas, como a Rodrigues Alves. O resto ficou apenas no papel (foto Mapas de Santos)
 
Século XX - A Metamorfose
O saneamento e as transformações na cidade
A partir de 1889 tem início a grande campanha pelo saneamento de Santos, com as primeiras intervenções projetadas pelo eng. Garcia Redondo e executadas pela Cia Docas de Santos, juntamente com os aterros e as obras de construção do primeiro trecho de cais do novo porto organizado. Em 1905 a Comissão de Saneamento tem as suas atribuições ampliadas pelo Governo do Estado para realizar intervenções urbanísticas, e Saturnino de Brito, seu engenheiro-chefe, elabora um planejamento urbano completo, visando organizar o crescimento da cidade nas áreas ermas da planície e das praias. Na época, Santos tinha cerca de 45.000 habitantes (censo de 1901) e 161 ruas, nenhuma delas alcançando 2 km de extensão.

O projeto de Saturnino
O projeto de Saturnino de Brito previa um extenso Jardim Balneário que ocuparia uma área do Gonzaga entre a Av. Ana Costa, Rua Galeão Carvalhal, Av. Washington Luís e Av. Vicente de Carvalho. A Avenida Marechal Deodoro ligaria a Praça Independência ao Morro da Nova Cintra, atravessando perpendicularmente os bairros do Campo Grande e Marapé (já estava previsto no prolongamento desta via a construção de um túnel rumo à Zona Noroeste da cidade). As avenidas Francisco Glicério e Afonso Pena seriam marcadas por duas largas pistas e um magnífico jardim central. Haveria também um grande jardim na confluência da Rua Mato Grosso e Av. Washington Luís, o que daria enorme charme à Vila Rica, bairro de classe alta previsto no projeto. O projeto previa também a construção de um grande centro poliesportivo no antigo hipodrómo do Jockey Club de Santos, que ocuparia a área entre as ruas Epitácio Pessoa e Alexandre Martins e entre as avenidas Joaquim Montenegro e Pedro Lessa. O centro poliesportivo abrigaria um enorme estádio, ginásios, quadras poliesportivas e piscinas.
 
Acima, parcial do Projeto de Urbanização de Saturnino de Brito a partir dos canais de drenagem - das grandes áreas verdes projetadas, foram implantadas apenas os jardins da Orla e o Orquidário:
1: Praça Washington (hoje Orquidário)
2: Grande Rotatória Marechal Deodoro (atual Pinheiro Machado x Carvalho de Mendonça)
3: Grande Rotatória Bernardino de Campos (atual Francisco Glicério x Av. Bernadinho de Campos)
4: Jardins centrais da Av. Francisco Glicério
5: Grande Jardim Balneário
6: Jardins da orla da praia
7: Praça Central (atual Av. Washington Luís x R. Mato Grosso)
8: Grande Praça Palmares (Siqueira Campos x Afonso Pena)

 
O fim do paraíso dos turcos
A partir de 1904 o Centro passa por grandes transformações, com a reurbanização de diversas áreas. Era Intendente o Dr. Francisco Malta Cardoso, que promove a demolição dos velhos quarteirões do Largo do Rosário, reurbanizando a Rua do Consulado (atual Frei Gaspar) e o antigo Beco do Inferno, conhecido como o Paraíso dos Turcos. No lugar do antigo casario surgem prédios altos, arejados e bem iluminados. O Dr. Francisco Malta também inova ao oferecer isenção de impostos por 5 anos para quem construísse prédios nas duas principais avenidas da cidade: a Av. Conselheiro Nébias e a Av. Dona Anna Costa. O incentivo da Prefeitura atinje o objetivo e a área central da planície começa a ser ocupada (esse tipo de incentivo serviu de exemplo para as administrações futuras, como acontece no projeto Alegra Centro do ano 2000).

Demolição no Beco do Inferno e na Rua do Consulado (Frei Gaspar)
em 1904 - o Centro muda de cara (foto Setur)
O desaparecimento das igrejas
Os edifícios sacros, antes numerosos e espalhados por toda a Vila, já não aparecem com a mesma frequência. Nessa época, a Igreja sofria golpes por causa dos interesses comerciais aliados à tendência anti-clerical do século XIX. Além disso, a elite já não promove a construção de capelas face à promulgação da Lei proibindo os sepultamentos em igrejas. A Igreja da Graça, na atual Rua do Comércio, presente na vida da cidade desde 1562, é demolida em 1903. Outra importante igreja que desaparece é a Igreja Matriz de Todos os Santos, derrubada em 1908 para a ampliação de seu Largo, a nova Praça da República. A Capela de Jesus, Maria e José, também chamada Capela do Carvalho, que ficava na Rua da Praia (hoje Tuiuti), é derrubada durante a construção dos primeiros trechos de cais. Das 11 igrejas barrocas da cidade restaram apenas cinco: Igreja de Santo Antonio do Valongo, Igreja de Nossa Senhora do Desterro, Capela da Ordem 3ª do Carmo, Igreja do Carmo e Igreja do Rosário.

Urbanização da Praça da República, antigo Largo da Matriz, em 1908. A reforma
derruba a centenária igreja para o alargamento da praça, sob a alegação de que
estava condenada devido ao ataque de cupins (foto Setur)
Os canais de drenagem
Em 1906 tem início as obras que iriam mudar a cara da cidade: a construção dos canais de drenagem. Em 1907 é inaugurado o primeiro dos sete grandes canais que cortam a ilha do estuário até o mar. Os canais íam se abrindo acompanhados de obras de urbanização em seu entorno: a terra retirada aterrava brejos e alagadiços, eram construídos passeios, as ruas ganhavam calçamento, levantavam-se muros e plantavam-se muitas árvores que, segundo Saturnino, aliadas à ventilação natural dos espaços abertos dos canais, minimizariam as temperaturas escaldantes de Santos.
Saiba mais sobre os canais em Saneamento

O Canal 1 no ano de sua inauguração. Segundo Saturnino, os canais poderiam
suportar a navegação de pequenos botes para transporte de doentes ao Hospital
de Isolamento durante eventuais epidemias (coleção João Gerodetti)
Aspectos urbanos - 1913
Para Santos, o café foi realmente um fenômeno. Em algumas dezenas de anos a pequena cidade litorânea sofreu profundas transformações, tornando-se uma urbe cosmopolita, com amplas avenidas margeadas por magníficos prédios. Nossas praias, rodeadas de mata tropical, tornaram-se balneários concorridos, conferindo um aspecto de estância turística à cidade. O crescimento demográfico ocorreu com o mesmo ímpeto: dos 7.855 habitantes em 1854, início da era do café, a população saltou para 13.000 em 1890, 35.000 em 1896 e 45.000 em 1901. Em 1913, Santos possuía 88.967 habitantes, dos quais 71.236 na área urbana e apenas 17.731 na zona rural. Do total, 38.771 eram paulistas e cerca de 5.000 eram provenientes de outros estados. Os estrangeiros somavam quase 41,9%, sendo 23.000 portugueses, 8.291 espamhóis, 3.164 italianos, 911 turcos, 651 japoneses, 478 alemães, 309 ingleses, 226 austríacos e 218 franceses. A cidade possuía 6.790 prédios nas duas primeiras zonas da cidade e 3.788 na área rural. As ocupações dos terrenos caminhavam em direção às praias e a elite construía mansões e palacetes ao longo da orla.

Vista do Monte Serrat em 1915, mostrando o desenvolvimento urbano ao
longo das novas avenidas abertas, em direção às praia (foto M.Serrat)
Novas construções refletem a riqueza do povo santista
A riqueza advinda com o ciclo do café mergulhou a cidade numa época de ouro que se acentua ainda mais nas primeiras décadas do século XX e que é ostentada claramente na imponência dos novos edifícios públicos e privados e na construção de grandes monumentos e praças. É a época em que surgem o novo prédio da Alfândega (1880), o belo Theatro Guarany (1881), o Hotel Internacional (1895) que projeta Santos no exterior, o Miramar (1896), o Real Centro Português (1900), os Monumentos a Brás Cubas e a Cândido Gafrée e Guinle (1908), o Palace Hotel (1910), o Corpo de Bombeiros (1909), o Parque Balneário Hotel (1914), o Monumento a Bartolomeu de Gusmão (1922), o Monumento à Independência (1922), a atual sede dos Correios e Telegraphos (1924) e, fechando com chave de ouro as três décadas áureas de Santos, o lançamento do grandioso Theatro Colyseu (1924).

O majestoso monumento à Independência, inaugurado em 1922
no Gonzaga, reflete a riqueza da cidade na era do café (foto Setur).
As alterações do projeto de planejamento
Mesmo com o aguçado estudo de Saturnino, o projeto urbanístico de Santos rendeu longas polêmicas nos anos seguintes a sua divulgação. Nada mais natural, pois ía contra os interesses dos proprietários de terras que, desejando manter intactos seus grandes terrenos e chácaras, discordavam das desapropriações necessárias. As críticas foram inúmeras, na maior parte completamente inconsistentes, como alegar que havia um "exagero de linhas retas ou ruas intermináveis". A todas as críticas Saturnino rebateu com argumentações, mas na prática e ao longo do tempo, foram feitas alterações significativas no plano original. No entanto, apesar dessas distorções, a cidade cresceu de uma forma organizada e a ocupação do solo seguiu mais ou menos o projeto original, pelo que podemos dizer que Santos é uma cidade planejada. A maior e mais prejudicial distorção do projeto é a ausência dos grandes parques, dos quais foram implantados apenas o Orquidário e os jardins da praia, e principalmente, a minimização das largas Avenidas Parque, um conceito até então desconhecido no país. Mas os fatos apenas corroboram uma verdade comprovada ao longo da História: homens de visão estão sempre além de seu tempo, sendo compreendidos e valorizados somente muitos anos depois.

Vista de 1905 mostrando do início da Av. Anna Costa e da Av. Pinheiro Machado (Canal 1). O primeiro prédio da esquina à direita ainda existe e funciona - o Restaurante Almeida. A elevação à direita é o Morro do Lima, que sofreu intervenção e desapareceu no processo de urbanização (imagem Poliantéia).
1920 - Santos é outra cidade
No guia turístico "L'État de Saint Paul" de 1926, o francês A. D'Atri escreve: "Prefiro não dizer como era esta cidade há apenas 30 anos, quando a visitei pela primeira vez. Hoje, ela ergue-se soberba sobre o litoral do Atlântico e belos edifícios, palácios modernos e monumentos arquitetônicos surgem alinhados em ruas retificadas e ensolaradas como as das cidades marítimas mais reputadas da Europa. Os estrangeiros que visitam Santos manifestam marcada preferência pela Rua XV de Novembro, ladeada de edifícios de construção recente, grandes hotéis, luxuosos restaurantes e movimentados cafés.
"A população não soma menos de cem mil habitantes, sem contar a população de passagem, aquela que de manhã invade Santos para seus negócios e retorna à tarde a São Paulo ou outras cidades vizinhas. Assim se explica a vida movimentada e atarefada que mantém em contínua efervescência esta cidade marítima e comercial. A região situada entre a parte urbana e a suburbana não está inteiramente edificada. Na verdade, muitas ruas tem sido abertas recentemente, em várias direções, dando origem aos bairros populosos do Paquetá, Macuco e Vila Mathias, onde as construções visam principalmente às necessidades da classe média e do proletariado. Por outra parte, as avenidas e praias atestam, pela ostentação graciosa de seus hotéis e suas vilas modernas, o ímpeto progressista que vem transformando vertiginosamente esta velha cidade."

Foto de 1915 mostrando o local conhecido desde o século XVIII como
"Quatro Cantos", um dos pontos mais efervescentes da cidade na época
(postal da col. João Gerodetti)
1936 - A urbanização das praias
Os terrenos da praia, considerados área da Marinha, foram concedidos à Santos pelo Governo Federal por volta de 1922, para evitar o assenhoramento por particulares, a exemplo do que aconteceu no Guarujá; este fato se deve a Vicente de Carvalho e sua "Carta Aberta ao Presidente da República", dirigida ao então Presidente Epitácio Pessoa. Em 16 anos nada foi feito a respeito dos terrenos das praias e corríamos o risco de perdê-los novamente. A única forma de salvar as áreas da orla era iniciar a posse imediata através da construção de logradouros públicos. E foi ao que deu início o Prefeito Aristides Bastos Machado, seguindo o projeto de planejamento urbanístico de Saturnino de Brito. A partir de 1936 ele construiu jardins e passeios, numa largura de cerca de 60 metros (na média), no trecho entre o Gonzaga e o Boqueirão e mais uma parte em direção ao José Menino. As obras foram continuadas e melhoradas nas administrações seguintes. O Prefeito Sílvio Fernandes Lopes, que construiu o trecho final por volta de 1958, apaixonado pelos jardins, descobriu um meio de manter sempre floridos seus canteiros - as espécies eram cultivadas em vasos com terra adequada e os vasos eram plantados nos canteiros, considerando-se a posição quanto ao sol e às rajadas de vento; os vasos eram substituídos periodicamente por plantas com floração de acordo com a época, tornando os jardins da praia um enorme parque-jardim com floração permanente. Se esse método é utilizado hoje desconhecemos, o fato é que os jardins, apesar de floridos, não oferecem a mesma variedade e quantidade de flores do passado.

1936 - O primeiro trecho da orla da praia urbanizado. A construção dos
jardins da praia estava prevista no projeto urbanístico de Saturnino.
1938 - Novas mudanças no Centro
No final dos anos 30 o coração da cidade sofre mudanças em razão da construção do Palácio José Bonifácio, a nova sede da Prefeitura e da Câmara. O edifício, em estilo eclético, é inpirado no Palácio de Versailles de Paris, e a Praça Mauá é remodelada como a miniatura da esplanada de Versailles, em harmonia com o Paço Municipal. As obras compreendem o alargamento dos passeios laterais, arborização e ajardinamento. A inauguração do conjunto se deu em 1939, ano do centenário da elevação de Santos à categoria de cidade.

A Praça Mauá recém urbanizada: uma miniatura da esplanada
de Versailles para harmonizar com o novo Paço Municipal.
O inchaço urbano e a mudança na paisagem
A partir da construção da Via Anchieta em 1943 e do desenvolvimento da indústria automobilística na década de 60, Santos sofre profunda transformação arquitetônica e urbana, quando é invadida pela especulação imobiliária. A cidade descobre o turismo de massa e, ao longo da orla das praias, antigos palacetes dos "barões do café" vem abaixo para dar lugar a edifícios altos, quase todos de apartamentos para temporada. Jóias arquitetônicas se perdem nesse processo, como o Parque Balneário Hotel e seus lindos jardins, para dar lugar a um grande empreendimento imobiliário, e o Palace Hotel, no José Menino, para dar lugar ao confuso Universo Palace. Os arranha-céus que invadem o horizonte e mudam a paisagem também formam uma barreira para a brisa do mar e a ventilação da cidade, que se torna mais abafada.

Vista da praia do Boqueirão em 1954 mostrando o acentuado crescimento vertical. Note a pista especial com os trilhos de ida e volta dos bondes (col.João Gerodetti)
A decadência urbana nas décadas de 70 e 80
A partir de meados da década de 70, a poluição das praias e vários outros fatores mergulham a cidade em uma fase de decadência geral que se reflete também sobre o patrimônio arquitetônico da cidade, entregue ao abandono e ao descaso. O Theatro Guarany é destruído por um incêndio e o Colyseu, tombado em 1982, está entregue ao abandono; os antigos casarões neoclássicos do Valongo, tombados em 1983, abrigam armazéns, escritórios, botequim e borracharia, até o incêndio em 1985. Todo o Centro está mergulhado no marasmo produzido pela transferência gradativa do comércio para o Gonzaga. Construções, praças e monumentos, tudo vai se deteriorando aos poucos.

Os prédios tortos da orla
A construção dos edifícios da orla, sem fundações profundas ou sem um estudo detalhado sobre o impacto geológico, deu origem, alguns anos depois, aos chamados prédios tortos da orla. Isto porque o subsolo de Santos é formado por camadas alternadas de areia e argila marinha até a profundidade média de 50 m, quando se encontra a rocha. Enquanto as camadas de areia podem servir de apoio a fundações, por possuirem baixa deformabilidade e uma capacidade de carga razoável, as camadas de argila marinha são altamente compressíveis e tem baixíssima capacidade de carga. A partir dos anos 40 foram construídos edifícios de 18 andares apoiados em fundações de 1,5 de profundidade e os recalques provocados por seu peso sobre as camadas de argila foram muito grandes, variando de 40 a 120 cm. Se o prédio recalcar como um bloco, não há grandes problemas, já que não se aumentam as tensões nos elementos estruturais; mas se uma parte do prédio recalcar mais que outra, haverá redistribuição das tensões. O problema é que, além do recalque sofrido por um prédio, a construção de outro prédio vizinho provoca novos recalques no primeiro, variando de acordo com o peso, proximidade e outros fatores. Nada disso teria acontecido se, contrariando a ganância das construtoras, os prédios tivessem sido limitados à altura de 9 andares, que foi o que realmente aconteceu na década de 1960, por uma mudança na Lei de Uso e Ocupação do Solo.

O Edifício Excelsior, construído pela Metromar na esquina da Av. Siqueira
Campos (Canal 4), é um dos mais graves casos de recalque da orla da praia.
 
Século XXI - A recuperação
A recuperação a partir dos anos 90
Em meados da década de 90, Santos sai do processo de estagnação. O primeiro passo é a conscientização da população de que a cidade possui uma vocação turística inexplorada: praias, museus, edifícios e monumentos históricos. O turismo vem sendo, desde meados dos anos 90, o principal alvo dos investimentos públicos da cidade. Vale ressaltar neste aspecto a recuperação da balneabilidade das praias, a restauração do palacete da Av. Bartolomeu de Gusmão, último remanescente da época dos "barões do café" e sede da Pinacoteca Benedicto Calixto, a revitalização do Museu de Pesca, a reforma do Aquário Municipal, a urbanização do Emissário Submarino, além de outras pequenas intervenções como a reurbanização da área central da Praça Independência, a limpeza dos monumentos e a reforma nas calçadas centrais (ilhas) da Av. Ana Costa e Conselheiro Nébias.

2000 - A revitalização do Centro

A Associação Centro Vivo se mobiliza e a Administração Municipal oferece incentivos fiscais para provocar a restauração e a manutenção, por particulares, de antigos edifícios no Centro. É o Projeto Alegra Centro. Além dele, começa a ser implantado o Plano de Revitalização do Centro, com uma série de medidas e obras: a criação de um calçadão na Rua XV, as restaurações da Via Sacra do Monte Serrat e da fachada da Casa de Frontaria Azulejada, a revitalização da Casa do Trem Bélico e da Cadeia Velha, a reurbanização do Outeiro de Santa Catarina e seu entorno, a reurbanização parcial no Valongo, a iluminação por lampiões antigos na Rua XV, no Valongo e na Rua do Comércio, a restauração da Estação do Valongo e o lançamento da linha e do bonde históricos. Todas essas medidas tornam o Centro um foco de atração turística, para lá atraindo, dentro do conceito de reciclagem arquitetônica, clubs noturnos e restaurantes concorridos. O Alegra Centro vem dando tão certo que em 2003 a Rua XV, a Rua do Comércio, a Bolsa do Café e o nosso bonde histórico constantemente servem de cenário para comerciais, filmes e novelas de época.
Ainda em 2003, a Prefeitura adquiriu as ruínas do Teatro Guarany prometendo a sua reconstrução.
Enfim, entre erros e acertos dos últimos governos municipais, uma série de medidas e iniciativas vem sendo tomadas para recolocar Santos no caminho de sua natural vocação turística.

A série de incentivos fiscais oferecidos dentro do projeto Alegra Centro,
da Prefeitura Municipal, vem mudando a paisagem do Centro (foto PMS)

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